Pode ser que você leia o título deste texto e naturalmente subentenda que pedir desculpas é algo poderoso! Sim, isso é a mais pura verdade, mas será que pedir desculpas tem somente a parte boa da história?

Quando tentei pela oitava vez fazer aula de inglês para sair do famoso “the book is on the table” fiquei bastante curiosa com a expressão: “I am sorry”. Durante as aulas percebia que esta pequena frase tinha diversas formas de ser utilizada, inclusive na situação de perda de um ente querido. Eu tentava entender porque os americanos chegam no velório e dizem: “I am sorry”. Na minha ignorância, não fazia sentido algum pedir desculpas por algo que não foi sua culpa. Até que descobri que a expressão “I am sorry” neste contexto significa “Eu lamento”. Nesse momento, além de ter compreendido a utilização desta expressão no idioma inglês e me sentir um passo adiante do “the book is on the table”, comecei a refletir a utilização da palavra “desculpa” em nossa língua.

Se pararmos para analisar, a palavra desculpa é composta pelo prefixo de negação DES + o verbo CULPAR, que nada mais é do que “Responsabizar alguém por algo causado a outrem”. Ou seja, des+culpa nada mais é do que negar minha responsabilidade em algo.


Mas o que isso significa na nossa cultura?

Quantas vezes você não ouviu alguém pedir desculpas por algo no sentido de livrar-se da culpa ou responsabilidade e ainda alegando que não teve a intenção. “Desculpe, eu não sabia da reunião”, “Desculpe, fulano não me passou o material”, “Desculpe, não tive tempo de olhar seu e-mail”, “Desculpe, não encontramos alternativas para alcançarmos as metas deste mês” e por aí vai. São inúmeros exemplos reais e sinceros das dificuldades e obstáculos que sofremos no dia a dia. Sim, isso demonstra humildade, mas pode também ser um ótimo subterfúgio para a isenção de responsabilidade sobre algo e até para a busca de soluções perante os problemas.

Nos nossos trabalhos sobre Desenvolvimento da Cultura de Accountability costumamos nos deparar com diversos exemplos de justificativas ou desculpas que as pessoas costumas utilizar dentro das empresas. Esses comportamento, além criar uma cultura de falta de responsabilização, se forem associados a busca de um outro responsável pelo problema, a empresa sofre de um sintoma bastante comum que é a Cultura do Culpar.

O que acontece na prática é que, além das pessoas gastarem mais tempo na busca pelos culpados, o foco das interações vão para o lado oposto da solução.

Como combater isso? Que tal conhecer mais sobre o poder da Accountability?

Para quem não está familiarizado com a palavra, Accountability nasceu da necessidade de prestar conta sobre suas atitudes e evoluiu para a “capacidade de reconhecer e assumir seus impactos nas situações as quais está envolvido(a) e gerar as mudanças necessárias a partir da transformação de si mesmo” (Julia Gianzanti).

Nesse contexto, o cardápio de justificativas e desculpas é substituído por uma postura de protagonização sobre todos os seus comportamentos, possibilitando assim, a busca por soluções, uma vez que assumir a responsabilidade pelo que fazemos nos coloca como autores de novas possibilidades.

Afinal, se sou parte do problema, preciso ser parte da solução, não é mesmo?